Fascismo sem nome? A disputa pelas palavras na construção da “nova direita”
Resumo
Este artigo analisa a adjetivação do significante “direita” (como “ultradireita”, “extrema direita”, “direita radical”, entre outras) como um gesto de leitura e disputa ideológica no discurso político. Partindo de uma perspectiva materialista-discursiva, o estudo problematiza como esses termos operam na construção de sentidos, enfatizando estratégias linguísticas (como prefixação, posição sintática do adjetivo). A análise revela que a escolha por determinadas designações não é neutra: ela diz de enquadramentos políticos, disputas de poder e efeitos de legitimação ou estigmatização. Além disso, o artigo critica a naturalização de noções como “fascismo” e “extremismo”, mostrando como essas categorias são mobilizadas para produzir consensos imaginários (como a dicotomia entre “centro moderado” e “extremos perigosos”). Por fim, discute-se a apropriação de termos como “radical” pela direita, destacando como essa estratégia dilui críticas ao capitalismo e reforça a ordem burguesa.
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